sexta-feira, 24 de julho de 2009

BLINDAGEM


Anos 70. Os jovens no mundo inteiro se agitavam com o surgimento e a explosão do rock. Desde os comportados e bonitinhos The Beatles até os rebeldes e escrachados
The Rolling Stones. Tinha pra todo mundo. Quatro ou cinco garotos, cabelos compridos e brandindo uma guitarra, poderiam conquistar o mundo. Estava lançada a semente. Era permitido sonhar.

Em Curitiba não foi diferente. A cidade fervilhava com o novo som e a banda Blindagem era a legítima representante da grande onda que se espalhava pelo planeta. Festivais, clubes, parques, ginásios de esportes, colégios, concursos, praças etc. A banda não perdia uma oportunidade para se apresentar.

Corria o ano de 1977. A banda, formada originalmente por Paulo Juk (baixo), Amauri Stochero (guitarra e vocal), Alberto Rodriguez (guitarra) e Mário Júnior (bateria), fazia um rock agressivo e performático. Participava de montagens teatrais e seu som podia variar do lírico ao pesado e suas roupas, bem, que roupas? Tocavam até pelados!

As apresentações da banda nos festivais de Águas Claras (1978) e Camburock (1979) foram antológicas. Ao lado de grandes bandas da época, participou de momentos históricos do rock brasileiro. Uma banda nova cravando seu nome na história, tocando para milhares de pessoas de todo o país.

A banda namorava o Ivo, o Ivo Rodrigues. Além de excelente vocalista, sua parceria com o poeta Paulo Leminski era uma verdadeira fonte musical. A casa do Leminski fervia. Uma grande panela de pressão, cozinhando palavras e notas que depois eram degustadas no Bar Bife Sujo. E ali, outras eram criadas e escritas em guardanapos molhados de cerveja.

As canções precisavam ser cantadas e a banda tinha sede. Uma formação tipicamente roqueira não os impedia de arranjar e executar as baladas, sambas e até um estilo sertanejo que certamente fazia parte da formação da dupla Ivo e Leminski.

Como Ivo Rodrigues ainda fazia parte da A Chave, “Ivo e Blindagem” foi a solução. O “Blue do Sul”, nome do show, foi apresentado também em São Paulo e Rio de Janeiro.

Ivo e Paulo Teixeira, que vinham de uma experiência anterior com A Chave, passam a integrar oficialmente a banda. O primeiro show com a nova formação foi “Adeus 70”, no Palácio de Cristal do Círculo Militar do Paraná, com Tutti Frutti e o Bixo da Seda.

Depois, Rock Jeans no Play Center em São Paulo. Logo em seguida, Presidente Prudente, com a Casa das Máquinas. Shows ao ar livre no Parque Barigüi, em Curitiba, com muito som e alegria.

Em 1980, pela primeira vez, o Guairão. Com o sucesso das apresentações ao vivo, o público pede o disco. A Gravadora Continental se interessa e a gravação do vinil “Blindagem” em 1981, consegue destaque nacional. Marinheiro, de Ivo Rodrigues e Paulo Leminski, entra na programação das rádios de São Paulo e a banda se apresenta nos principais programas nacionais de televisão.

Por outro lado, as rádios do interior se renderam à beleza do arranjo blues de Berço de Deus, de Milionário e José Rico, que a banda incluiu no LP. O público queria conhecer os roqueiros parceiros da famosa dupla sertaneja e a banda caiu na estrada. Foram muitos shows.

Dentre todos, destacou-se o II Festival de Águas Claras. Como a Blindagem já havia participado do primeiro, foi uma apresentação em grande estilo. Milhares de pessoas saindo das barracas e vindo de encontro ao palco pra curtir a banda.

Importante a participação no “1o Encontro Nacional do Disco”, em Canela, no Rio Grande do Sul. Foi o lançamento oficial da Blindagem em rede nacional de TV e rádio.
Uma semana de festa e amizade com medalhões do disco. Jantares, elevadores e quartos divididos com gente que a banda só conhecia da TV.

Junto com o lançamento do disco, o grupo é convidado pelo teatrólogo Antonio Carlos Kraide, para fazer a direção e execução musical de “Rocky Horror Show”. Um sucesso. Oitenta apresentações no Teatro Guaíra e uma experiência inédita para a banda com os músicos interpretando personagens importantes do famoso texto.

A década de 80 prometia e a banda não deixou por menos. Atacou São Paulo e Rio de Janeiro. Apostou tudo em busca de novos palcos e novas oportunidades. Emprego fixo, estudos, família, tudo estava em segundo plano. O sonho era para ser sonhado. Era preciso trilhar o caminho, buscar o reconhecimento. O sucesso.

Em 1983, a banda é convidada para integrar o cast da gravadora Pointer. O lançamento de um novo compacto, agora com possível repercussão nacional, leva a banda a apresentações em São Paulo. As músicas escolhidas são Me Provoque Pra Ver e Malandrinha.

A frustração pela não continuidade do projeto, leva a banda a momentos difíceis. Mas todos sabiam das pedras na estrada e tinham muita vontade de manter a banda unida.

Em 1984, no Rio de Janeiro, reencontra o amigo Piska, guitarrista da Casa das Máquinas que se oferece para produzir um compacto com Operário Padrão, de sua autoria, e Blindagem de autoria da banda. Operário Padrão toca nas rádios e dá novo impulso à banda. Porém, Marinho, o baterista, que já vinha se desinteressando, resolve sair para montar a banda “Instinto Cigano”.

A banda perde o contato com Marinho, que vai morar no Rio de Janeiro.
Ruben Pato Romero, baterista argentino, que já havia tocado com o guitarrista Alberto, no Paraguai, é convidado para entrar. Pronto.
A formação se mantém até hoje: Alberto Rodriguez (guitarra), Ivo Rodrigues (vocal), Paulo Juk (baixo), Paulo Teixeira (guitarra) e Pato Romero (bateria). Uma formação básica que muitas vezes recebeu convidados para shows e gravações.

Rio de Janeiro. Copacabana. No apartamento na rua Toneleiros, alugado por um ano, a convivência foi, digamos, muito benéfica para todos. Hoje todos sabem fritar ovos e lavar roupa. Um verdadeiro trabalho de equipe. Tanto o “terno e gravata”, quanto o avental, eram compartilhados por todos. Nos ares dos bares do Baixo Leblon, soava um sotaque sulista. Blindagem estava lá, garimpando amizades e tomando todas!

1986. O objetivo era se fazer presente em todos os locais onde houvesse oportunidades para tocar ou encontrar alguém importante do meio musical. Circo Voador ( com Celso Blues Boy), Festival do Clube de Remo da Lagoa (com Cazuza,Titãs e Kid Abelha), Teatro Ipanema, com produção própria, e bares, muitos bares e muita canja.

Numa das muitas investidas na Polygram, a banda convence Roberto Menescal, que na época era diretor artístico da gravadora, a ouvir o seu som. Ele cede os estúdios e, com produção novamente do Piska, agora de forma inesperada, grava Além do Silêncio, do Alberto Rodriguez. O resultado empolgou Menescal, tanto que ele quis produzir uma nova gravação da música que seria incluída no novo trabalho que a banda gravaria em 1987, Cara & Coroa, com produção própria.

Shows e compromissos familiares forçam o retorno a Curitiba. Nos shows, a banda apresenta novas músicas. O som está mais pesado, mas ao mesmo tempo o público quer ouvir também o lado leve e romântico do primeiro trabalho.

Para elaboração do novo disco, a banda fica dividida entre dois pólos. De um lado sua performance roqueira e pesada e do outro teclados, violões e vocais românticos.
Sem negar nada, a banda assume o desafio. Afinal, reunir num mesmo trabalho, tendências e estilos tão diversos, não seria fácil. “Cara&Coroa” é o nome do novo trabalho.

O lado A, mais pesado, com Não, Não, Não e Igual a Mim valorizando as guitarras e um vocal mais agressivo.
O lado B, suave e romântico, com Além do Silêncio, Lá Vai o Trem, Se eu Tivesse, O Homem e a Natureza e a utilização de piano, harmônica, sax, orquestra e vocais.

Para o lançamento do LP, a banda arma um grande encontro com jornalistas e radialistas com direito a chope, churrasco e futebol. No encontro, democraticamente é escolhida a música Se eu Tivesse, de Ivo Rodrigues, para tocar no rádio.

Se nacionalmente a banda não atinge o público merecido, no Paraná é grande sucesso. Tanto Se eu Tivesse quanto Além do Silêncio conquistam primeiros lugares nas rádios de Curitiba e do interior. Novamente muita estrada e sem desprezar nenhuma oportunidade, comícios, festivais, clubes, praças, carrocerias de caminhão e bares.

Bem, os bares são literalmente um capítulo inteiro. Precursora do som ao vivo nos bares da cidade, desde 1980, Rainha Careca, John Bull, Porto Velho e muitos outros tremeram com o agito que a banda criava.

Anos mais tarde, os filhos crescendo e a necessidade de cada um ganhar grana pra viver, as opções de trabalho individual ou em dupla não podiam ser desprezadas. Assim, a banda se dividiu. O trabalho árduo e o dinheiro curto fizeram com que todos começassem a pensar em montar um bar próprio, no qual o palco fosse o altar, o lugar mais importante, e a música basicamente o rock.

Então, Miragem foi o primeiro. A banda já conhecia a praia de Enseada, em São Francisco do Sul. Já tocara no Bar do Biale (o Ponto de Encontro) e na Prainha. E foi ali mesmo. Uma bandeira foi asteada e da praia todos sabiam onde a noite seria mais alegre. Foi uma temporada de sucesso na qual a união provou que faz a força.

Um bar em Curitiba, rua Jaime Reis, Alto São Francisco. O Penny Lane, inaugurado em 1989, foi uma inovação. Uma proposta diferente que oferecia ao público uma programação rica em novidades, além, é claro, do melhor do rock e da música pop nacional e internacional, ao vivo.

Pelo palco do Penny Lane a presença, sempre inesperada, de nomes como Lobão, Caetano Veloso, Fortuna, Paulinho Boca de Cantor, Jorge Mautner, Paulo Autran, Renato Russo, Moares Moreira e A Cor do Som, entre outros.

Em 1990, a banda inaugura o Penny Lane em Camboriú, Santa Catarina. As chuvas ininterruptas do mês de janeiro e uma grande tempestade no início de fevereiro foram problemas incontornáveis. De volta a Curitiba, fogo na kombi, susto e aventura.

Em junho de 1991, Blindagem atravessa o Atlântico. Um projeto audacioso engloba a gravação de um disco trilingüe e apresentações ao vivo na Itália . A banda grava no MetaStúdio e apresenta-se como atração internacional no festival anual da cidade de Castagnolle Lanze.

A banda traz as matrizes das gravações para Curitiba e não encontra máquinas compatíveis para mixar o trabalho. Único registro, uma fita cassete gravada pelo Pato numa das sessões finais de gravação. O lançamento ficou suspenso e a banda é abalada pela saída de Paulo Juk, que parte para empreendimentos pessoais na Tunísia, norte da África.

Em 1997, com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, a banda grava o CD “Dias Incertos”. Algumas músicas gravadas na Itália são regravadas, Miragem e Volto na Primavera. Novas músicas são gravadas: Coração de Bicho, Loba da Estepe, Rapidamente, Amo Você, Onde Está Você e Dias Incertos.

Originais da gravação italiana também entram no CD: Cada Vez Mas De Ti (Além do Silêncio em espanhol), A Year Ago, Legião de Anjos e Mulher do Presidente.

No final do ano de 1997, Paulo Juk retorna, reassume o contrabaixo da banda e volta a fazer contatos com radialistas que sugerem a regravação da música Miragem com roupagem acústica. A banda regrava e a música tem boa execução nas principais rádios de Curitiba.

Em 1998, a banda completa 20 anos. Uma grande comemoração seria necessária e nada mais apropriado que o Grande Auditório do Teatro Guaíra. E a noite do dia 03 de junho foi muito especial. A grande tribo Blindagem, agora composta de pais e filhos lado a lado nas poltronas, cantou junto os sucessos da banda.

Mais um show no Guairão, em 1999. Agora comemorando 21 anos. O lançamento em CD do primeiro vinil da banda também foi comemorado com alegria. Afinal o LP lançado em 1981, continua sendo o mais importante da história da banda. Cheiro do Mato, Oração de um Suicida, Gaivota, Não posso ver, Marinheiro são músicas obrigatórias nos show da banda.

Mais uma vez no palco do Guairão, e com a imensa platéia de mais de dois mil lugares lotada, a Blindagem comemorou seus 25 anos com o “Um Show em Favor da Vida”. A apresentação contou com a participação especial de diversos músicos locais, interpretando as canções da banda.

Numa iniciativa do maestro Alessandro Sangiorgi, que rege a, em 2007 a banda voltou ao Grande Auditório do Teatro Guaíra para uma apresentação histórica, que uniu rock e música erudita, o Rock em Concerto. Foram duas noites com casa cheia e empolgada, ao som de versões feitas especialmente para o show. No set list, clássicos da banda se misturaram a 5ª Sinfonia de Beethoven, entre outros eruditos.

A lendária apresentação gerou ampla repercussão na mídia impressa e eletrônica, foi transmitida na íntegra pela TV Educativa e foi gravada em DVD, registrando o encontro histórico.

Em junho de 2008, um novo encontro da banda e Orquestra Sinfônica do Paraná lota novamente as duas apresentações no Guairão. Nestes shows, a banda lança o DVD “Rock em Concerto – Banda Blindagem e Orquestra Sinfônica do Paraná”.


Site:

http://www.bandablindagem.com.br/index.htm

Um comentário:

  1. e aí grande the cesar!!!!!!! ótimo blog fio....vindo de você não poderia ser diferente!!! Grande abraço rocker!!!!!

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